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Euroimmun News A ciência por trás dos testes de sensibilidade alimentar

A ciência por trás dos testes de sensibilidade alimentar

03 de Junho de 2025
Artigos & Matérias
Por Dra. Azadeh Bojmehrani PhD no departamento de Scientific Affairs da EUROIMMUN Canadá

Alguns estudos mostram a ligação entre doenças específicas e a sensibilidade alimentar (IgG). Entenda como os testes de sensibilidade alimentar podem ajudar no controle de sintomas

A sensibilidade alimentar pode ser causada pelo aumento da permeabilidade do intestino delgado, o que é conhecido como síndrome do intestino permeável. Quando essa barreira intestinal fica comprometida, componentes alimentares, toxinas e bactérias podem atravessar a parede intestinal com mais frequência e entrar na corrente sanguínea 1. Quando isso ocorre, anticorpos IgG contra antígenos não patogênicos provenientes dos alimentos são produzidos durante a resposta imune mediada por anticorpos (resposta humoral), formando complexos imunes (combinação entre o anticorpo e seu respectivo antígeno) 2.

A sensibilidade alimentar é uma reação generalizada a alimentos, frequentemente acompanhada por níveis elevados de anticorpos IgG específicos para determinados alimentos 3 4. Ao contrário de uma alergia alimentar, os sintomas da sensibilidade alimentar podem ser retardados por alguns dias após o consumo do alimento desencadeante. Devido ao período de reação retardada e sintomas ambíguos que imitam doenças comuns, pessoas com sensibilidade alimentar podem passar a vida sem perceber que possuem essa condição. Sintomas como distensão abdominal 6 7 4 8, inflamação 5, dores de cabeça e diarreia podem indicar sensibilidade alimentar 9.

Alergia alimentar

Alergia alimentar é uma reação imunológica que ocorre logo após a ingestão de um alimento específico. Mesmo uma pequena quantidade do alimento causador pode provocar sintomas como distensão abdominal, urticária e dilatação das vias aéreas 10.

Dois componentes do sistema imunológico estão envolvidos nas alergias alimentares: a imunoglobulina E (IgE), tipo de anticorpo que circula pela corrente sanguínea, e os mastócitos, encontrados em todos os tecidos corporais, especialmente no nariz, garganta, pulmões, pele e trato digestivo 10 11.

Quando a IgE funciona corretamente, detecta gatilhos, como parasitas ou outras substâncias potencialmente perigosas, e instrui o corpo a produzir histamina. Tosse, chiado e urticária são sinais de histamina 10.

No entanto, a IgE também pode reagir a proteínas normais, fazendo com que o corpo responda a uma ou mais proteínas alimentares específicas. Quando você come algo, a proteína é digerida e absorvida pelo sistema. A IgE é liberada e se liga à superfície do mastócito. Devido à IgE, o alimento desencadeará sintomas por todo o corpo 12.

IgG vs. IgE

A IgE é uma proteína produzida em reação a um material estranho que entra no corpo. As sensibilidades alimentares são mais brandas e duram mais do que as alergias típicas mediadas por IgE 13.

As alergias alimentares causadas por IgE acontecem imediatamente ou pouco tempo após o consumo do alimento, mas a sensibilidade alimentar (IgG) leva algum tempo, de semanas a meses ou anos, para se manifestar 14.

Significado clínico da sensibilidade alimentar

Alguns estudos mostram que há uma ligação entre doenças específicas e a sensibilidade alimentar (IgG). Níveis elevados de anticorpos IgG contra vários alimentos ou aditivos alimentares estão frequentemente presentes. Por exemplo, altos níveis de anticorpos IgG foram encontrados em pacientes com dores de cabeça e enxaquecas, artrite, síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais, asma e uma variedade de outras doenças 15 9.

Abaixo, seguem exemplos adicionais de sensibilidade alimentar associada a doenças secundárias:

  • Artrite reumatoide: a importância da inflamação iniciada por anticorpos no desenvolvimento da AR é mostrada pela ligação genética entre respostas de autoanticorpos específicos de epítopos e a geração de alterações dependentes e independentes da inflamação na cartilagem por autoanticorpos patogênicos 16 17.
  • Cólon irritável: em vários estudos, pacientes com síndrome do intestino irritável foram tratados com uma dieta de eliminação. Uma grande porcentagem de pacientes relatou uma melhoria significativa em seus sintomas, com alguns até relatando uma recuperação completa subjetiva 6 18 19.
  • Dores de cabeça e enxaquecas: uma pesquisa de 1935 descobriu que, após seguir uma dieta de eliminação, 66% de 127 pacientes com enxaqueca ficaram livres de sintomas 20. Outras pesquisas mais recentes replicaram esses achados, demonstrando que uma dieta de eliminação baseada em níveis de IgG tem um impacto considerável na frequência das crises de enxaqueca 21 22 23 24.
  • Doenças inflamatórias intestinais: em um estudo retrospectivo, Cai e colegas (2014) descobriram que pacientes com doenças inflamatórias intestinais têm uma alta incidência de anticorpos IgG contra certos alimentos, o que pode ser usado para projetar uma dieta de eliminação 25.


Achados similares foram identificados em pesquisas posteriores 26 5 27.


Teste de sensibilidade alimentar

A EUROIMMUN disponibiliza o teste myfoodprofile, que inclui tiras de teste revestidas com 54 alimentos diferentes.

O kit myfoodprofile é utilizado para determinar anticorpos IgG humanos contra antígenos alimentares no soro, plasma EDTA, heparina ou citrato de maneira semiquantitativa in vitro. Os anticorpos IgG podem gerar complexos circulantes anticorpo/antígeno com antígenos alimentares, que podem aderir às paredes vasculares e causar distúrbios induzidos por complexos imunes ou agravar doenças inflamatórias existentes (sensibilidade alimentar).

Na primeira etapa da reação, as tiras do teste são umedecidas e incubadas com a amostra do paciente. Se a amostra contiver anticorpos IgG específicos, eles se ligarão aos componentes antigênicos presentes na tira. Em seguida, uma segunda incubação é realizada com um conjugado enzimático anti-IgG humano, que catalisa uma reação de cor usada para detectar os anticorpos ligados.


Principais conclusões

A sensibilidade alimentar é uma resposta imunológica a componentes dos alimentos. Ela é desencadeada pelo aumento da permeabilidade do intestino delgado — condição conhecida como síndrome do intestino permeável — que permite a passagem de fragmentos alimentares para a corrente sanguínea. Fatores como alterações na microbiota intestinal, uso de medicamentos, infecções, conservantes, álcool, nicotina e estresse podem contribuir para essa condição.

O sistema imunológico reconhece essas estruturas antigênicas como estranhas e passa a produzir anticorpos especializados da classe IgG. Essa resposta imunológica, que geralmente ocorre após um determinado período (de algumas horas a dias após a ingestão do alimento) provoca uma reação inflamatória que pode se tornar crônica. A inflamação crônica pode ocorrer em qualquer parte do corpo, não apenas no trato gastrointestinal. Os sintomas mais comuns incluem diarreia, constipação, distensão abdominal, náuseas, desconforto gástrico, síndrome do intestino irritável, enxaqueca, asma, doenças articulares, falta de concentração, problemas de pele e alterações de peso (sobrepeso ou baixo peso)

Geralmente, recomenda-se uma dieta de eliminação (ou exclusão) por um período determinado para aliviar os sintomas. Nessa dieta, a alimentação do paciente é restrita aos alimentos que apresentam baixos níveis de anticorpos IgG. Para limitar ou prevenir a permeabilidade da parede intestinal aos antígenos alimentares, também podem ser consideradas abordagens terapêuticas que melhorem a flora intestinal.

É impossível determinar se os sintomas de um paciente são causados por anticorpos contra alimentos específicos apenas com base na detecção de IgG. Os resultados do teste (myfoodprofile) devem ser usados somente como ponto de partida para um ajuste de dieta de curto prazo. Só a partir dessa intervenção, e não antes dela, é possível identificar possíveis conexões entre os sintomas e os alimentos. Dietas de exclusão que evitam alimentos com altos títulos de IgG têm demonstrado, em diversos estudos, reduzir os sintomas em várias condições clínicas.

Esta é uma tradução do texto originalmente produzido em inglês para o blog da EUROIMMUN: https://euroimmunus.blog/food-sensitivity/food-sensitivity/


Leia também:
myfoodprofile: um novo teste para o cultivo de hábitos alimentares realmente saudáveis

 

Referências:

  1. Gaby, A. R. The role of hidden food allergy/intolerance in chronic disease. Altern Med Rev 3, 90–100 (1998).
  2. Tao, R., Fu, Z. & Xiao, L. Chronic Food Antigen-specific IgG-mediated Hypersensitivity Reaction as A Risk Factor for Adolescent Depressive Disorder. Genomics Proteomics Bioinformatics 17, 183–189 (2019).
  3. Drisko, J., Bischoff, B., Hall, M. & McCallum, R. Treating irritable bowel syndrome with a food elimination diet followed by food challenge and probiotics. J Am Coll Nutr 25, 514–522 (2006).
  4. el Rafei, A., Peters, S. M., Harris, N. & Bellanti, J. A. Diagnostic value of IgG4 measurements in patients with food allergy. Ann Allergy 62, 94–99 (1989).
  5. Bentz, S. et al. Clinical relevance of IgG antibodies against food antigens in Crohn’s disease: a double-blind cross-over diet intervention study. Digestion 81, 252–264 (2010).
  6. Jones, V. A., McLaughlan, P., Shorthouse, M., Workman, E. & Hunter, J. O. Food intolerance: a major factor in the pathogenesis of irritable bowel syndrome. Lancet 2, 1115–1117 (1982).
  7. Bischoff, S. C., Herrmann, A. & Manns, M. P. Prevalence of adverse reactions to food in patients with gastrointestinal disease. Allergy 51, 811–818 (1996).
  8. Bernardi, D. et al. Time to reconsider the clinical value of immunoglobulin G4 to foods? Clin Chem Lab Med 46, 687–690 (2008).
  9. Mullin, G. E., Swift, K. M., Lipski, L., Turnbull, L. K. & Rampertab, S. D. Testing for food reactions: the good, the bad, and the ugly. Nutr Clin Pract 25, 192–198 (2010).
  10. Seth, D., Poowutikul, P., Pansare, M. & Kamat, D. Food Allergy: A Review. Pediatr Ann 49, e50–e58 (2020).
  11. Zar, S., Benson, M. J. & Kumar, D. Food-specific serum IgG4 and IgE titers to common food antigens in irritable bowel syndrome. Am J Gastroenterol 100, 1550–1557 (2005).
  12. LaHood, N. A. & Patil, S. U. Food Allergy Testing. Clin Lab Med 39, 625–642 (2019).
  13. Haddad, Z. H., Vetter, M., Friedmann, J., Sainz, C. & Brunner, E. Detection and kinetics of antigen-specific IgE and IgG immune complexes in food allergy. Ann Allergy 51, 255 (1983).
  14. Halpern, G. M. & Scott, J. R. Non-IgE antibody mediated mechanisms in food allergy. Ann Allergy 58, 14–27 (1987).
  15. Coucke, F. Food intolerance in patients with manifest autoimmunity. Observational study. Autoimmun Rev 17, 1078–1080 (2018).
  16. Hvatum, M., Kanerud, L., Hällgren, R. & Brandtzaeg, P. The gut-joint axis: cross reactive food antibodies in rheumatoid arthritis. Gut 55, 1240–1247 (2006).
  17. Nandakumar, K. S. Targeting IgG in Arthritis: Disease Pathways and Therapeutic Avenues. Int J Mol Sci 19, E677 (2018).
  18. Nanda, R., James, R., Smith, H., Dudley, C. R. & Jewell, D. P. Food intolerance and the irritable bowel syndrome. Gut 30, 1099–1104 (1989).
  19. Atkinson, W., Sheldon, T. A., Shaath, N. & Whorwell, P. J. Food elimination based on IgG antibodies in irritable bowel syndrome: a randomised controlled trial. Gut 53, 1459–1464 (2004).
  20. Fleming, G. W. T. H. Allergy in Migraine-like Headaches. (Amer. Journ. Med. Sci., vol. cxc, p. 232, Feb., 1935.) Sheldon, J. M., and Randolph, T. G. Journal of Mental Science 81, 954–954 (1935).
  21. Alpay, K. et al. Diet restriction in migraine, based on IgG against foods: a clinical double-blind, randomised, cross-over trial. Cephalalgia 30, 829–837 (2010).
  22. Arroyave Hernández, C. M., Echavarría Pinto, M., Echevarría Pinto, M. & Hernández Montiel, H. L. Food allergy mediated by IgG antibodies associated with migraine in adults. Rev Alerg Mex 54, 162–168 (2007).
  23. Aydinlar, E. I. et al. IgG-based elimination diet in migraine plus irritable bowel syndrome. Headache 53, 514–525 (2013).
  24. Mitchell, N. et al. Randomised controlled trial of food elimination diet based on IgG antibodies for the prevention of migraine like headaches. Nutr J 10, 85 (2011).
  25. Cai, C. et al. Serological investigation of food specific immunoglobulin G antibodies in patients with inflammatory bowel diseases. PLoS One 9, e112154 (2014).
  26. Lindberg, E., Magnusson, K. E., Tysk, C. & Järnerot, G. Antibody (IgG, IgA, and IgM) to baker’s yeast (Saccharomyces cerevisiae), yeast mannan, gliadin, ovalbumin and betalactoglobulin in monozygotic twins with inflammatory bowel disease. Gut 33, 909–913 (1992).
  27. Kawaguchi, T. et al. Food antigen-induced immune responses in Crohn’s disease patients and experimental colitis mice. J Gastroenterol 50, 394–405 (2015).
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