A crise climática redesenhou o mapa das doenças infecciosas no planeta, provocando o avanço geográfico de doenças como West Nile, dengue, chikungunya e Febre do Oropouche. Aliás, apenas em 2025, os casos registrados de infecção pelo vírus Oropouche chegaram a 11.986, com cinco óbitos confirmados: um aumento que tem chamado a atenção das autoridades epidemiológicas brasileiras desde o fim de 2023, quando os casos confirmados eram de apenas 834. e sem registros de óbitos (acompanhe os dados em tempo real aqui).
Outro fator importante é que, agora, o vírus Oropouche está chegando até estados brasileiros que ficam geograficamente distantes da Amazônia. Este arbovírus, que é transmitido pelo mosquito maruim e, até bem pouco tempo atrás, estava restrito à floresta tropical, agora está presente em áreas urbanas de estados como Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais - a exemplo do que já aconteceu no passado com o zika vírus e até com a malária.
Quem responde é o Dr. Maurício Nogueira, Professor Adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), referência internacional em arboviroses e coordenador científico da nova vacina contra a dengue, a Butantan-DV, que acaba de ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): “Certamente o crescimento de casos dessas doenças emergentes é um sintoma do desequilíbrio climático, mas é importante reforçar que essa não é a única causa. Existem também fatores antropológicos que devem ser levados em conta, como o aumento da população brasileira e até certos comportamentos de risco de um número maior de pessoas, que nos coloca em contato direto com certos arbovírus, como o turismo ecológico”, conta.

A essa lista de fatores causais soma-se o aumento da mobilidade da população mundial, com viagens e deslocamentos internacionais que favorecem a velocidade com que epidemias e pandemias se espalham pelo globo terrestre. “Por isso, digo que a crise climática é um fator de grande importância sim, mas atribuir o aumento das arboviroses apenas a esse fato pode minimizar um problema de saúde pública que é muito maior e tem uma participação antropogênica bastante importante”, enfatiza Nogueira.
A Organização Mundial da Saúde tem estado cada vez mais atenta ao fator causal entre o aumento das temperaturas e a maior incidência de doenças que são transmitidas por vetores como o Aedes aegypti, caso das arboviroses, e tem emitido relatórios de alerta para os países mais afetados pelo clima. A estimativa atual é de que, se nada for feito, tenhamos 250 mil mortes contabilizadas por ano, graças a doenças como malária e outras arboviroses, além de outros problemas que o clima quente pode trazer ao ser humano.
Já a Fiocruz, através de seu Observatório do Clima e da Saúde, destaca que as evidências sugerem que a variabilidade climática das últimas décadas influenciam diretamente sobre a biologia e a ecologia de vetores como os mosquitos, e isso,, consequentemente, eleva o risco de transmissão das doenças veiculadas por eles, como as arboviroses.
O aquecimento global nos últimos anos está mais acelerado, especialmente entre 2024 e 2025, quando recordes de altas temperaturas foram quebrados em vários países do mundo. O ano de 2024, aliás, foi reconhecido como o mais quente já registrado no mundo - e foi justamente o momento em que os casos de Febre do Oropouche começaram a crescer no Brasil, atingindo um total de 13.856 registros e 4 óbitos confirmados, um número inédito no país.
“O aquecimento global acelerado, somado ao crescimento desordenado da população, e que chega cada vez mais próximo das fronteiras ecológicas, tem aumentado o risco de ocorrerem novas doenças emergentes, sejam elas transmitidas por vetor - como no caso recente do Oropouche - sejam as doenças infecciosas respiratórias, como este ano ocorreu com o Influenza ou, há alguns anos atrás, com o coronavírus”
Dr. Maurício Nogueira, Professor Adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), referência internacional em arboviroses e coordenador científico da nova vacina contra a dengue, a Butantan-DV
É por conta desses fatores, inclusive, que fica difícil responder uma das perguntas mais importantes em relação ao futuro: quais são os novos riscos iminentes?
Para o Dr. Maurício Nogueira, essa resposta acaba sendo uma espécie de palpite, e o dele listou algumas infecções emergentes dos últimos tempos: “É o caso da emergência do Oropouche em 2024-2025, o vírus Influenza H5N1 cada vez mais prevalente fora das aves e oferecendo risco ao humano, o vírus brasileiro Mayaro que está sempre na iminência de emergir, entre outras ameaças menos famosas, mas que evidenciam a necessidade de uma vigilância epidemiológica atenta.”
? Dengue tipo 3 (DENV-3): recentemente esse vírus voltou a circular no Brasil, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Paraná.
? Vírus Oropouche: a tendência epidemiológica é que os casos se ampliem por todo o país, especialmente nos meses de maior calor
? Chikungunya: esse arbovírus permanece muito presente em todas as regiões do Brasil - o país corresponde à 96% dos casos confirmados no mundo, segundo a OMS.
Fonte: Dr. Maurício Nogueira, com informações da Agência Brasil - https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2025-01/dengue-sorotipo-3-volta-circular-no-pais-e-preocupa-autoridades
“Diante de toda essa previsão, é importante saber que o Brasil hoje tem um sistema de vigilância epidemiológica bastante sensível para perceber a presença desses novos vírus, assim que isso ocorrer, e dessa forma poder tomar as medidas de saúde pública cabíveis”, diz o especialista.
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