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Euroimmun News Alzheimer: como a evolução no diagnóstico em neurologia pode mudar o curso da doença

Alzheimer: como a evolução no diagnóstico em neurologia pode mudar o curso da doença

17 de Julho de 2025
Artigos & Matérias
Por equipe EUROHub, centro de geração e disseminação do saber científico da EUROIMMUN Brasil

Biomarcadores encontrados no líquor - ou até na saliva - podem ajudar a identificar precocemente a doença e permitir o uso dos medicamentos certos, na hora certa

No Brasil, 8,5% das pessoas com mais de 60 anos, ou 1,8 milhão de pessoas, convivem com demências, sendo que uma mesma causa corresponde a 70% dos casos: a doença de Alzheimer. As informações são do Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras, documento do Ministério da Saúde que reúne dados epidemiológicos recentes, publicados até setembro de 2024.

Mas esses números podem estar errados. Isso porque os dados brasileiros são subnotificados, uma vez que a maioria das pesquisas disponíveis foram conduzidas apenas na Região Sudeste. Portanto, mais pessoas podem portar a doença, mas ainda sem a confirmação diagnóstica. Além disso, durante muito tempo, o diagnóstico do Alzheimer permaneceu estritamente clínico, por meio da exclusão de outras patologias que pudessem causar os sintomas associados. Pacientes que chegavam aos consultórios dos neurologistas eram testados - especialmente por conta da perda da memória recente, e das dificuldades de raciocínio ou de encontrar as palavras certas - e, dessa forma, poderiam receber a notícia de que estavam com Alzheimer.

Isso está mudando. Hoje, já existem testes laboratoriais que investigam biomarcadores específicos no líquor para dar suporte ao diagnóstico e até ajudar a identificar a doença em sua fase inicial. 

O tema foi um dos destaques da programação científica do Congresso Brasileiro de Análises Clínicas, que ocorreu de 15 a 18 de junho em Campinas (SP), com participação da EUROIMMUN Brasil. O time do EUROHub esteve por lá e acompanhou a aula ministrada por Gustavo Alves, pesquisador na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e um dos maiores especialistas do Brasil no diagnóstico do Alzheimer. A seguir, consolidamos alguns dos principais insights e informações compartilhados pelo pesquisador, com destaque para o potencial de sua atual linha de pesquisa para o diagnóstico precoce da doença.

Como a doença impacta

O Alzheimer afeta não apenas o paciente, mas a família inteira, porque compromete algo muito importante para todo ser humano: a preservação da memória e de tudo o que aconteceu na vida do indivíduo. A doença começa a se manifestar no hipocampo, região do cérebro responsável por registrar memórias de curto prazo, e só depois ameaça a consolidação das memórias de longo prazo.

Do ponto de vista da saúde pública, o Alzheimer também tem efeito grandioso e complexo, uma vez que, com o envelhecimento das populações em diversos países, mais pessoas convivem com demências e precisam de cuidados constantes. A estimativa, apenas nos Estados Unidos, é 13,8 milhões de pessoas sejam afetadas pelo Alzheimer até 2060 - mais que o dobro dos atuais 6,9 milhões de americanos diagnosticados1.

Você sabia? Existem alguns fatores de inclusão para o Alzheimer, entre eles fatores associados à qualidade de vida, escolaridade e práticas de atividade física. Por isso, hoje já sabemos que pessoas que tiveram mais acesso à educação, que conseguem tratar melhor a sua saúde, que têm acesso a entretenimento e que praticam exercícios conseguem ter uma maior reserva cognitiva contra as doenças neurodegenerativas.

A doença também tem causado maior mortalidade. Desde 2020, época da pandemia de Covid-19, o Alzheimer passou a fazer parte, pela primeira vez, de uma lista temida: a das dez doenças que mais matam no mundo todo, já ocupando o sétimo lugar2. E pior: enquanto os óbitos por doenças como acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardíacas e até decorrentes do HIV têm diminuído ao longo dos últimos anos, as mortes decorrentes da doença de Alzheimer só crescem. Entre 2020 e 2021, esse aumento foi de 140%3.

Por tudo isso, a detecção precisa da fase inicial da doença de Alzheimer na fase pré-clínica é de grande importância para o sucesso de estratégias preventivas e terapêuticas4

5 fatos  sobre o Alzheimer

  • A doença começa interferindo naquilo que a pessoa acabou de registrar e aprender. 
  • Pouca gente sabe, mas os primeiros sintomas mais comuns não são a perda de memória, e sim a perda auditiva e a perda do olfato.
  • A detecção de alterações neuropatológicas de Alzheimer por meio de biomarcadores é equivalente ao diagnóstico da doença.
  • Atualmente, a doença é a sétima que mais causa óbitos no mundo.
  • Os pacientes morrem em decorrência da doença, normalmente por causas respiratórias, cardíacas e renais. 

Biomarcadores específicos para o diagnóstico

Nos últimos dez anos, ficou cada vez mais claro para os cientistas que a doença de Alzheimer evolui em um processo contínuo, que pode ser dividido entre duas fases: antes e depois da demência em si. A partir disso, avanços no diagnóstico em neurologia têm sido essenciais para o desenvolvimento de testes mais sensíveis, específicos e confiáveis para detectar biomarcadores de doença de Alzheimer em fluidos biológicos (líquido cefalorraquidiano e sangue) antes que os sintomas da demência apareçam.

Nesses casos, as proteínas têm sido o principal alvo de diagnóstico, especificamente as da família beta-amiloide, como a  beta 40 e beta 42. Hoje, sabe-se que essas proteínas começam a se acumular já na fase pré-clínica, na qual o indivíduo não apresenta sinal da doença. E isso é uma grande vantagem, uma vez que, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), o tempo médio para a evolução da fase pré-clínica até a demência é de 7.8 anos, um tempo precioso para que sejam feitas intervenções terapêuticas que podem mudar o prognóstico, como o uso de novos medicamentos (donanemabe) que retardam a evolução da doença.  Portanto, quanto mais cedo o diagnóstico for feito com o uso de biomarcadores, mais provável a possibilidade de usar o tratamento mais adequado.

“Quem tem Alzheimer não perde a memória, e sim a capacidade de evocar a memória, que é como atuam os tratamentos que estão sendo desenvolvidos atualmente”

Gustavo Alves, pesquisador colaborador da FEA-UNICAMP,  pesquisador na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto

O que mais vem por aí?

Imagine poder encontrar biomarcadores para a doença de Alzheimer na saliva dos pacientes. Essa é a linha de pesquisa de Gustavo Alves, farmacêutico de formação, com doutorado em biotecnologia e inovação em Saúde. Atualmente, ele é  coordenador e professor na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic de (SP), pesquisador colaborador da FEA-UNICAMP e  pesquisador na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

“O trabalho com as amostras de saliva começaram em 2012, quando notamos a viabilidade de encontrar algumas proteínas que pudessem ajudar no diagnóstico de Alzheimer”, contou o especialista.

No entanto, mais recentemente, já na fase de pós-doutorado, Alves aprimorou a seleção das amostras, se certificando de que não houvesse nada que pudesse atrapalhar a investigação - como uso de certos medicamentos - e chegou a um resultado promissor: pessoas mais idosas e que tinham o Alzheimer diagnosticado apresentavam uma maior quantidade dessas proteínas na saliva. “Até então isso foi feito com um kit que não era específico para a saliva. O próximo passo, portanto, é desenvolver um teste para esse tipo de amostra”, diz.

A saliva, por sinal, embora seja uma amostra muito rica para o diagnóstico, pode trazer alguns desafios. “É que algumas substâncias podem estragar rapidamente quando são retiradas da saliva, por uma diferença de ambiente. Assim, os kits para esse tipo de amostra precisam ser pensados de forma que, logo após a coleta, o material seja mantido em refrigeração (-20°C), até que seja feito o processamento”, explica Alves.


Leia também
Um diagnóstico moderno da Doença de Alzheimer: Diretrizes Revisadas
Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras

Overview of the blood biomarkers in Alzheimer's disease: Promises and challenges

World Alzheimer Report 2024

 

1. 2024 Alzheimer's disease facts and figures. Alzheimers Dement.. 2024 May;20(5):3708-3821. doi: 10.1002/alz.13809. Epub 2024 Apr 30. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38689398/

2. 2024 Alzheimer's disease facts and figures. Alzheimers Dement.. 2024 May;20(5):3708-3821. doi: 10.1002/alz.13809. Epub 2024 Apr 30. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38689398/ 

3. 2024 Alzheimer's disease facts and figures. Alzheimers Dement.. 2024 May;20(5):3708-3821. doi: 10.1002/alz.13809. Epub 2024 Apr 30. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38689398/ 

4. Cullen et al., 2021

 

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